História do Cristianismo

23/12/2009 13:21

A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO
Erasmo V. Ungaretti
 

 

(Cap. 1)

A HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

“... vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4, 4, 5).

Deus penetrou na história dos homens e nela começou a escrever a sua história - a que tem por propósito a redenção de todas as suas criaturas. Assim, o Cristianismo tornou-se uma presença viva e relevante nas ocorrências que se efetuaram e se efetuam, no cenário da vida humana, dando oportunidade à salvação a todos que vierem a crer no Senhor Jesus Cristo. O evangelista e historiador Lucas fez a conexão do momento histórico em que os intentos divinos se fizeram presentes no mundo com a história dos homens, escrevendo informações como estas: “foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império romano para recensear-se” e “hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”; “No décimo quinto ano do reinado de Tibério César...” (Lucas 2.1 e 11; 3.1). Para realizar o seu intento Deus trouxe ao mundo o seu Filho; a sua presença foi tão evidente entre os homens, ao ponto de dividir em dois distintos períodos a sua história: “Antes de Cristo” (A.D.) e “Depois de Cristo” (D.C.).

Deus deu ao seu Filho o papel de ator principal neste drama da salvação humana. Por cenário ele escolheu uma terra especial, a que, em um passado distante doara a Abraão, terra que tomou o nome do filho desse patriarca - Israel. Nesse drama há momentos significativos que marcaram a vida do seu principal ator: sua chegada ao mundo e sua encarnação, o seu ministério, a sua crucificação e morte, o seu sepultamento e descida ao inferno, a sua ressurreição e ascensão aos céus. Mas esse drama não se encerrou em um momento passado, ele, ainda esta em plena realização e se estenderá até o momento do seu grandioso epílogo. Esse que ascendeu a gloria do Pai voltará para julgar a tudo e a todos, levando com ele aos céus os que o receberam por seu Senhor e Salvador. Esses ele incluirá na família de seu amado Pai, para nela viverem por toda a eternidade. Destacamos que o drama da história da salvação dos homens - a que Jesus introduziu no mundo - deu origem à sua Igreja.

(Cap. 2)

A IGREJA DE JERUSALÉM

A reunião dos apóstolos com os primeiros discípulos, mais os convertidos do dia de Pentecoste, ocasionou a formação da primeira congregação cristã no mundo. Esse grupo não pensava constituir uma religião distinta do judaísmo; dele não se isolou em seu início. Divergiam apenas no fato que criam e pregavam que Deus em Cristo cumprira a promessa da vinda do tão esperado Messias – Jesus Cristo. Eles participavam dos atos realizados no Templo, guardavam o sábado e outras expressões da fé judaica. Mas, no primeiro dia da semana os cristãos se reuniam em um cenáculo, celebrando a ressurreição do Senhor Jesus. Atos dos Apóstolos 2.46, afirma sobre isso: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração”.

Com a adesão de novos convertidos o grupo inicial tomou maior expressão. Algo diferente ocorria com eles: sinais e milagres se sucediam e a vida desse grupo de pessoas era diferente. Expressavam entre eles um amor inteiramente diferente, possuíam uma graça especial ao testemunhar que Jesus era o Senhor das suas vidas, pois, ele era o Messias – o Cristo - e, também, a fé que demonstravam em sua pessoa, impressionava a muitos. O crescer dessa nova comunidade, entretanto, suscitou as perseguições vindas das autoridades israelitas, pois não os podiam controlar. Assim, ocorreu a morte do primeiro mártir da fé em Cristo – Estevão. Um homem forte se levantou e assumiu a liderança do extermínio da nova crença. Saulo, de Tarso tomou a si a obra de aniquilar os que eram reconhecidos como “os do Caminho”.

Quando “levantou-se grande perseguição à igreja de Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria...” (Atos 8.1), alguns foram para outros lugares e houve quem chegou aos confins da terra. O evangelho se espalhou. Surge no meio cristão a figura de Paulo – o perseguidor que se tornou em um perseguido, por amor de Cristo! Tomando caminhos novos ele expandiu a fé cristã, levando-a até a capital do Império Romano, onde, pelo seu testemunho, muitos aderiram à fé em Cristo.

(Cap. 3)

O CRISTIANISMO E O IMPÉRIO ROMANO

O mundo nos dias iniciais do Cristianismo estava, totalmente, sob o domínio político e cultural do Império Romano. Ele era soberano sobre todos os povos. A absoluta lealdade à pessoa do Imperador e o sistema militar a ele sujeito preservavam a unidade do Império. Foi dentro dele que o Cristianismo começou a se expandir. Por volta do ano 100 ele estava presente na Ásia Menor, na Síria, na Grécia e em Roma, sede desse único império mundial. O cristianismo não encontrou um campo livremente aberto a ele, assim, em muitos lugares em que penetrou, teve de enfrentar variadas formas de religiões e diferentes filosofias. Contudo ele continuou avançando onde era possível. Plínio, governador da Bitínia (cerca do ano 112), escreveu ao imperador Trajano que a religião de Cristo estava afetando o culto aos deuses do Império.

Nos dias do Imperador Nero (anos 60 D.C) foi o começo das fortes perseguições. Na época em que foi escrita a primeira carta de Pedro (aproximadamente ano 90), o mero fato de se declarar como cristão era motivo para severas punições. Nero, com sua loucura, incendiou a cidade de Roma e atribui aos cristãos a realização desse fato. A resposta que os discípulos davam às perseguições e acusações contra eles era a heróica lealdade a Cristo e a alta idoneidade moral que apresentavam.

No final do primeiro século, após serem escritos os quatro evangelhos e o livro de Apocalipse, surgiram vários escritores cristãos que receberam o cognome de “Pais Apostólicos”. Eram homens preocupados em firmar a verdadeira fé cristã diante de muitas heresias que surgiam, especialmente as que tratavam da pessoa de Jesus. Entre esses Pais contam-se: Clemente de Roma, Ignácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Hermes de Roma, Jerônimo e outros mais. Surgiu, também, nessa época um documento denominado: “Ensino dos Doze Apóstolos” (130-160), que retratava as condições primitivas do Cristianismo.

Os cristãos não eram bem aceitos em muitos lugares, pois se consideravam um povo separado, uma nova raça cuja cidadania não era a romana. A vida cristã era ascética e legalista. Já no ano 110, Inácio cita a existência de congregações, como as localizadas na Filadélfia, Esmirna e Roma; essas congregações eram presididas por um bispo monárquico. A razão de surgir esse tipo de governo se baseava em que, com a pessoa de um bispo coordenando as igrejas de uma região, ele seria um instrumento de oposição às diferentes heresias que surgissem. Por volta do ano 160, o episcopado monárquico tornou-se quase universal. Com isso, a igreja corria o risco de ter um governo central, acima dos bispos, sobre todas as congregações do Império, o que ocorreu mais tarde, dando origem ao governo do Papa.

(Cap. 4)

O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO

A palavra “cânon” é usada para designar um conjunto de leis, documentos ou livros religiosos. A reunião dos diferentes livros que hoje compõem o Novo Testamento começou de uma forma pálida, na metade do século II D.C. (Depois de Cristo). Até aquele momento os cristãos só reconheciam o Antigo Testamento como “Escritura Sagrada”. Os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e as cartas de Paulo circulavam nas congregações cristãs sem ser considerados como documentos oficiais. Foi em um sermão de Clemente, um dos Pais Apostólicos, que, pela primeira vez, os evangelhos e as cartas apostólicas foram designados como “Escrituras”, em pé de igualdade com o Antigo Testamento.

Entretanto, foi somente por volta do ano 200 D.C. que o cristianismo passou a dispor de um só conjunto de livros, que hoje forma o Novo Testamento que possuímos. Foi um cristão chamado Marciano quem compôs a primeira lista dos livros que julgava próprios para integrarem um só conjunto. Entretanto não foi fácil decidir quais eram os escritos autênticos entre os muitos existentes sobre a fé cristã. Somente por volta do ano 400 D.C. é que o Novo Testamento tomou, nas igrejas do Ocidente, a forma que possui até os nossos dias. Nas igrejas do Oriente isso só ocorreu bem mais tarde.

É bom lembrar que além dos vinte e sete livros que compõem o Novo Testamento circulavam, nos primeiros séculos da igreja cristã, muitos escritos, instruções e sermões dos chamados Pais Apostólicos e seus discípulos. Assim, o processo de seleção dos diferentes documentos existentes não foi fácil. Prevaleceu o critério de que somente seriam escolhidos os escritos reconhecidamente redigidos pelos primeiros apóstolos, ou um de seus discípulos imediatos (caso de Lucas). Assim, o Novo Testamento foi formado por documentos de autoria apostólica indiscutível.

Com o cânon fechado a igreja passou a possuir um forte recurso para combater as diversas heresias que perturbavam a vida dos cristãos daqueles dias. Somente a verdade consagrada no cânon estabelecido seria a autêntica doutrina da igreja. Nada mais poderia ser anexado a esse conjunto. Assim ficou preservado o cristianismo tal como foi anunciado nos seus primeiros dias de existência.

Somos agradecidos a Deus pelo Novo Testamento tal como temos hoje. Possuímos nele textos confiáveis, básicos para a nossa fé cristã. Com ele a igreja está segura da sua doutrina, pois realmente o Novo Testamento contém o autêntico evangelho do Reino de Deus pregado por Jesus e os seus apóstolos. Amém!

(Cap. 5)

O CRISTIANISMO NO MUNDO GENTIO

Nos anos 100 (A.D.) o Cristianismo já alcançara a Ásia Menor, Síria, Macedônia, Grécia, Roma e Egito. O forte espírito missionário e evangelístico dos cristãos espalhava a fé nos lugares em que se encontravam. Plínio, o governador da Bitínia, escrevendo a Trajano, o Imperador romano, informou-o que o cristianismo estava afetando o culto dos templos do Império. Já nesses dias os cristãos não se consideravam cidadãos do Império, se sentiam livres como um novo povo, uma nova raça, cuja cidadania era celestial; a que descera do céu e estava na terra. Era a Jerusalém celestial.

Os que ingressavam nesse novo povo precisavam abandonar a vida e a religião pagã, se arrependerem dos seus pecados dando satisfação por eles. Uma vez batizados se submetiam aos princípios cristãos que lhes eram ministrados. Eles, nas diferentes localidades em que residiam, se reuniam no primeiro dia da semana (dia da ressurreição de Jesus), quando eram lidas as Escrituras, ouviam os ensinos, cantavam hinos faziam as orações, celebravam a Ceia do Senhor Jesus e traziam as suas ofertas para os necessitados.

No Império Romano o Imperador era reconhecido como um deus. O culto ao Imperador e aos deuses pagãos era o único admitido. Os cristãos professavam que Jesus Cristo era o único Senhor de suas vidas e só a ele deviam obediência. Isso causou a ira dos diversos imperadores contra eles. Quanto mais o cristianismo se estendia dentro do Império, mais preocupação vinha ao governo romano. Inicialmente as autoridades romanas consideravam os cristãos como um ramo do judaísmo, o qual estava sob proteção legal. Foi a hostilidade dos judeus aos cristãos que chamou a atenção de que o cristianismo era uma fé diferente que se espalhava pelo Império.

Os cristãos já haviam sofrido perseguições nos dias do imperador Nero (ano 64). Mas foi no império de Trajano (117-138), Adriano (180-192), Antonio Pio (161-180) que a política contra os cristãos foi mais acirrada. Marco Aurélio (161-180) tornou as perseguições mais contínuas. Novas leis deram força redobrada contra as religiões estranhas ao Império. Sob o governo do Imperador Cômodo (180-192) o cristianismo foi tratado com mais tolerância que provinha da indiferença.

Os cristãos respondiam às perseguições apresentando uma forte lealdade à Cristo e um exemplo de um inquestionável comportamento moral. Foi nessa época que surgiram alguns homens cultos que defenderam a fé cristã com suas obras literárias. Eles foram denominados: os apologistas. Eram intelectuais reconhecidos pela intelectualidade que possuíam. Alguns deles aderiram à fé cristã outros eram apenas admiradores do cristianismo. O primeiro deles foi Quadratus que apresentou ao Imperador Adriano uma defesa do cristianismo. A ele seguiram outros: Aristides, filósofo cristão; Justino, chamado “o Mártir” que escreveu a mais famosa defesa; Taciano, Mêlito bispo de Sardes, Atenágoras cuja defesa escrita pode ainda ser encontrada hoje. Estes homens tiveram uma grande influência e, assim o Império abrandou suas perseguições.

(Cap. 6)

A IGREJA CRISTÃ NO REINADO DO IMPERADOR CONSTANTINO

Depois do intenso período de perseguições ocasionado pelos imperadores romanos, a igreja cristã, tomou uma nova direção. Após algumas batalhas, o Império Romano passou para as mãos do Imperador Constantino (cerca do ano 324. Ele reinou até a sua morte em 337). Numa noite, antes da última batalha para conquistar o trono, ele teve um sonho onde lhe pareceu ver as iniciais do nome de Cristo, com a inscrição; “Por este sinal vencerás”. Tomando isso por um oráculo mandou reproduzir o sinal da visão sobre o seu elmo e sobre os escudos dos soldados. Vencendo a batalha ele creu que o Deus dos cristãos lhe havia dado a vitória. Desde então se considerou, para todos os efeitos, um cristão. A igreja ficou livre das perseguições, mas, passou a estar sob uma forte influência do imperador. Assim, a igreja se uniu ao Estado, o que ocasionou prejuízos à fé cristã.

A política de Constantino direcionava tudo para uma só lei, um só imperador, uma única cidadania para todos os homens, uma só religião. Por um decreto o cristianismo tornou-se a religião oficial do todo o Império. Com isso a igreja cresceu nesse terceiro século, com grandes prejuízos para a autêntica fé cristã. Ela recebeu privilégios do governo. O trabalho foi proibido aos domingos passando a ser dia especial para o culto a Deus. Os sacrifícios pagãos foram restringidos, mas não descartados de todo. Foram estabelecidas leis favoráveis aos cristãos; templos foram construídos e outros, que eram consagrados aos deuses pagãos, foram adaptados ao culto cristão. Mas a nova fé imposta pelo governo a todo o império, não impediu que parte do povo continuasse cultuando os deuses do paganismo. No ano 324 um édito imperial determinou que todos os soldados do exército romano fossem batizados e integrados na fé cristã. Um prejuízo para a igreja foi, também, a mudança da capital do império de Roma para Bizâncio. Constantio a chamava de Nova Roma, mas o mundo lhe atribuiu o nome de Constantinopla [Cidade de Constantino].

A nova situação em que a igreja se encontrou, possibilitou o surgir de diferentes apostasias, sendo que a principal delas foi o “arianismo”, que deu lugar a acaloradas controvérsias sobre a doutrina na Trindade. Alguns homens, descontentes com o que ocorria na igreja, retiraram-se para o deserto, onde se dedicavam a uma vida ascética. Essas são as raízes dos monastérios que surgiriam mais tarde. Outros descontentes criaram cismas e romperam a comunhão com os demais cristãos.

Antes da época de Constantino o culto cristão era simples. Os cristãos se reuniam em casas particulares, nada de templos, não havendo qualquer cerimonial. Com a nova situação os crentes começaram a se reunir em templos, muitos dos quais foram erguidos para o culto pagão. Por influência do protocolo imperial, que queimava incenso ao culto do imperador, começou o incenso a ser usado nos cultos cristãos como uma honra prestada a Deus. Surgiu após o uso de vestimentas especiais para os guias espirituais e outras, ricamente ornamentadas, como sinal de respeito ao culto a Deus. Começaram também os processionais introdutórios ao culto. Outros rituais foram se estabelecendo, os quais eram realizados somente pelo clero, o que tornou o povo em um mero ouvinte. O problema mais grave foi que as imagens dos altares pagãos deram lugar às imagens de personagens cristãos. Assim, começou o culto a Maria, aos apóstolos e aos mártires.

Os líderes foram tomando uma posição de destaque e logo surgiu o cargo de bispo, personagem que se sobrepunha aos demais líderes em um determinado território e as suas congregações. Essa situação ocasionou, pouco mais adiante, que um bispo se tornasse acima de todos os demais bispos, o que deu origem a um governo superior sobre todos, o do Papa.

(Cap. 7)

O DESENVOLVIMENTO DO PODER DA IGREJA DE ROMA

No estudo anterior nós vimos que o Imperador Constantino, ao elevar o Cristianismo à condição de religião oficial do Império Romano, tornou-se a autoridade máxima sobre ela. Descontente com o paganismo e os maus costumes que imperavam na cidade de Roma, ele determinou a construção de uma nova cidade para ser a capital do Império. Esse novo local recebeu o nome de: “Constantinopla”, ou seja: a cidade de Constantino. A nova capital suplantou em tudo a cidade de Roma. Assim, começou o antagonismo entre as duas localidades. Alguém disse: “Roma fez muitos imperadores, ao passo que um só imperador fez Constantinopla”.

A mudança da administração do Império para um novo centro motivou transformações na vida do estado, e na vida da igreja. A igreja, sob a autoridade suprema do Imperador, era administrada nas diferentes localidades do Império pelos bispos. Na parte oriental do mundo eles eram denominados como: “Patriarcas”, (“Patriarcas: de Jerusalém”, da Antioquia, da Alexandria e de Constantinopla). Entretanto, o bispo de Roma manteve para ele o título que já possuía. Os homens que foram bispos de Roma sempre se destacaram como homens fortes, conceituados, mais experientes, assim, pouco a pouco, o bispado romano ganhou uma posição de maior prestígio sobre os demais bispados.

O bispo de Roma, nos dias de Constantino, diante do fato que a cidade perdera a posição de capital do Império, não querendo abrir mão da posição que possuía e, até mesmo desejoso de ampliá-la, declarou-a como a capital do Cristianismo. Isso, somado a uma tradição vigente de que o apóstolo Pedro fora o primeiro bispo estabelecido por Jesus, e que ele viera a Roma para exercer essa posição, lhe favoreceu o direito de reivindicar para si o mesmo posto ocupado por Pedro na cidade. Assim ele se considerou o seu sucessor. Isso foi o começo de algo que, em pouco tempo, se tornou oficial: a “sucessão apostólica”, ou seja: o homem que ocupa o bispado de Roma é um sucessor direto do apóstolo Pedro, o que deu, mais tarde, lugar á introdução da figura do Papa. Esse é o homem que é Soberano Senhor sobre toda igreja; posição que o torna como “único representante de Jesus no mundo”. A reforma Protestante negou, categoricamente, essa posição que a igreja assumiu.

No Concílio de Calcedônia, na Ásia Menor, ano de 451, o bispo de Roma tomou para si o primeiro lugar, deixando o Patriarca de Constantinopla em uma segunda posição. Dessa forma se preparava o caminho para um acontecimento trágico na vida da igreja: a sua divisão em: Igreja Ortodoxa (a do oriente) e a Igreja Romana (a do ocidente).

Ocorreu, nesse tempo, que o Império Romano depois de séculos de domínio sobre o mundo, e que parecia poderosamente inabalável, estava corroído pela decadência moral e política. Prevalecendo-se disso os povos bárbaros, seus vizinhos, cobiçosos das riquezas dos romanos, se lançaram sobre as suas cidades, saqueando-as e destruindo a tudo. Isso resultou no final à queda do grande, poderoso e glorioso Império Romano.

A igreja não sofreu com a queda do Império, pois o evangelho já penetrara no meio dos bárbaros e pode continuar nessa missão. Por outro lado, a igreja foi beneficiada por perder a soberania que o Estado exercia sobre ela. Ela ficou inteiramente livre para continuar a sua história. Como ela não buscou fixar-se sobre as bases bíblicas tomou um caminho inteiramente humano e pagão, abrindo um futuro nada feliz para ela

(Cap. 8)
A IGREJA MEDIEVAL

Depois de vermos algo da história da Igreja Apostólica, da Igreja perseguida e do período da Igreja Imperial (sob o Imperador Constantino), veremos, agora, o período que a História Geral designa como a “Idade Média”. Esse tempo estende-se desde a queda de Roma (476 A.D) indo até a queda de Constantinopla (1.453 A.D). Período que durou cerca de mil anos. Não iremos tratar hoje sobre a Igreja oriental, governada por Constantinopla. Veremos apenas algo que mais se destaca da vida da Igreja cristã no território europeu.

O fato marcante desse período é o desenvolvimento do poder papal. Já vimos que o papa de Roma afirmava ser o “bispo universal” e chefe de toda Igreja no mundo. O crescimento do poder papal teve inicio com o pontificado de Gregório I, o Grande, e atingiu o seu apogeu com Gregório VII, mais conhecido por Hildebrando. (Notemos que desde o princípio os papas, ao serem eleitos, tomavam para si um novo nome). Gregório I teve sua atenção voltada para a conversão das nações que, na Europa, ainda se conservavam pagãs. Com a intenção de conquistar, também, o poder temporal para as suas mãos, ele invadiu as províncias ao redor de Roma e as colocou debaixo do governo da Igreja. Com isso ele preparava a conquista do poder temporal da Igreja sobre as nações. Isso se acentuou quando os papas chamaram para si a coroação de novos reis e imperadores em diferentes países.

Esse papa introduziu diversas doutrinas na Igreja, como: a adoração de imagens, o purgatório, a transubstanciação (crença de que na hora da missa o pão e o vinho se transformam materialmente no verdadeiro corpo e sangue de Cristo). Como os governos das nações européias caíam com frequência, Roma intervinha nessas situações e assim os papas fortaleciam o seu poder temporal sobre reis, príncipes e governantes. Pelo fato de que a Igreja não proporcionava a vida espiritual que muitos procuravam, o monasticismo se fortaleceu em muitos países. Entretanto, por outro lado, padres, bispos e leigos lutavam pelo poder e distinção que as posições elevadas concedem. Pelo fato da erudição da Idade Média não ter o espírito crítico, ninguém duvidava das afirmações vindas dos Papas. Assim, o poder papal ascendia.

O último papa desse período foi Gregório VII (Hildebrando), que governou a Igreja com autoritarismo. Ele reformou o clero que estava corrompido e deteve, por algum tempo, a simonia (venda e compra de posições na Igreja); exigiu o celibato dos sacerdotes (determinação já aprovada anteriormente, mas sem execução). Ele pôs fim à nomeação de bispos pelos reis e imperadores e determinou que as acusações contra sacerdotes e as questões relacionadas com a Igreja seriam julgadas por tribunais eclesiásticos. Também decretou a soberania da Igreja sobre o Estado. Excomungou Henrique IV e isentou a todos os seus súditos da lealdade para com o seu imperador.

Outro papa que demonstrou elevado grau de poder foi Inocêncio III (1198 – 1216). Em seu discurso de posse ele disse: “O sucessor de São Pedro ocupa uma posição intermediária entre Deus e o homem. É inferior a Deus, porém superior ao homem. É juiz de todos, mas não é julgado por ninguém”. Ele foi o papa com poder absoluto e independente.

Quando a Europa saía do crepúsculo da Idade Média começou a decadência do poder papal com Bonifácio VIII (1303). Ele questionou com o rei da França, Felipe o Formoso, o qual lhe declarou guerra, apoderou-se do papa e o encarcerou. Quando foi libertado ele morreu logo, de tristeza. O período de 1305 a 1377 foi denominado de “Cativeiro Babilônico”, pois, por ordem do rei da França, a sede do papado foi transferida da cidade de Roma para Avignon, no sul da França, e os papas ficaram sob o controle do governo francês. Nesse período houve muitos papas e anti-papas em vários países. Nesse tempo, o papa Gregório XI voltou a Roma e convocou o Concílio de Constança (1414), com a finalidade de solucionar a situação de ser a Igreja governada por quatro papas. O concílio depôs os quatro papas e escolheu um novo e único papa. Assim o governo da Igreja retornou a Roma.

(Cap. 9)
A IGREJA NO PERÍODO QUE PRECEDE A REFORMA

No IV século da Era Cristã, diante dos desmandos da vida social e religiosa de grande parte da população e, em especial, da cúpula dirigente da Igreja [a vida dos Papas era extremamente mundana], surgiu em muitos religiosos o desejo de terem uma vida espiritual mais autêntica, mais pura e piedosa. Não encontrando o que aspiravam na Igreja que perdera a sua autenticidade, nem nas comunidades em que viviam, buscaram na vida de solidão, de oração e jejum, o que as suas almas ansiavam. Assim, afastando-se para lugares desertos, isolados do mundo, passaram a viver como eremitas. Dessa busca de solidão surgiu o que foi denominado “movimento monástico”. Entre os muitos monges que viveram em recolhimento, Santo Antão se destacou pela sua vida de devoção a Deus e de santidade.

Esse movimento, na Idade Média, teve uma expressão mais ampla com o surgir dos monastérios e conventos. Esses eram lugares que abrigaram pessoas que buscavam uma vida comunitária de recolhimento espiritual e de inteira consagração a Deus e ao seu serviço. No ocidente a primeira ordem religiosa que surgiu foi a dos Beneditinos, iniciada por São Bento, no ano de 529 A.D, no Monte Cassino, entre Roma e Nápoles, na Itália. Após, São Bento instituiu três regras básicas para os seus monges: obediência, castidade e pobreza; regras que foram, mais tarde, adotadas por outras congregações masculinas e femininas. Após, vieram os Circenses (na França) 1112; os Franciscanos 1209 (na Itália), esta fundada por São Francisco de Assis. Os Dominicanos surgiram em 1215 (na Espanha), instituída por São Domingos. Essas duas ordens citadas por último receberam a alcunha de “ordens mendicantes”, pois seus monges eram extremamente pobres, vivendo das esmolas que recolhiam de casa em casa.

Nesses séculos de desentendimento, brigas, busca de domínio e de desmandos na Igreja, especialmente em sua cúpula, outras ordens monásticas foram surgindo, tornando-se centros de quietude, paz, estudo, pregação, catequese, evangelização, cuidado de enfermos e de hospedagem de viajantes. Muitos monges serviram como missionários, espalhando-se pelo mundo, abrindo conventos, escolas, lugares onde acolhiam enfermos, mendigos e órfãos.

Ainda na Idade Média, diante da precária situação da igreja, começaram os primeiros movimentos reformadores. Esses movimentos tiveram que enfrentar um mundo que não estava preparado para recebê-los. Dessa forma foram reprimidos em sangrentas perseguições.

fonte: www.igrejaempoa.com.br