História Cristã

09/01/2010 16:17

 

A Reforma e seus desafios para a Igreja de Hoje! 

Nesta semana, quando comemoramos a Reforma Protestante, um movimento que teve seu apogeu na Alemanha, sob a liderança de um monge, chamado Martinho Lutero, e que mais tarde teve seus ideais enfatizados e ampliados em vários países do continente europeu, chegando a Suíça mediante Ulrico Zuínglio, na França por meio de João Calvino,e a Escócia por influência de João Knox, cabe-nos refletir neste artigo, o significado do movimento da Reforma Protestante, suas ênfases teológicas , e seus desafios para a Igreja Contemporânea.

1.Qual o significado da Reforma Protestante?

O movimento da Reforma Protestante foi sem dúvida nenhuma um dos maiores, ou o maior e mais significativo movimento na história da Igreja, após o advento da própria igreja registrado no livro de Atos dos Apóstolos. Seu significado e expressão vão além dos efeitos e mudanças religiosas operadas ou surgidas no século 16. A reforma protestante, ainda que na sua essência tenha sido um movimento de reforma religiosa, que teve seu apogeu em Martinho Lutero , na Alemanha , no ano de 1517, desencadeou reformas políticas, sociais, e econômicas de dimensões extraordinárias na Europa do século 16. A Reforma Protestante foi ao mesmo tempo reavivamento e revolução.

Quando falamos que o movimento da Reforma Protestante, foi um movimento que teve repercussões políticas, sociais e econômicas nos países que aderiram ao movimento. Estamos nos referindo ao fim das imposições, através dos pesados impostos e taxas que o Vaticano impunha aos países católicos. Além de estarmos nos referindo ao fim do domínio do Papa nas questões de políticas internas nestes países, podendo destituir e constituir reis segundo o seu bel prazer.

Para Willian Cunningham, teólogo presbiteriano escocês, “a reforma foi o maior evento, ou série de eventos, deste o encerramento do Cânon das Escrituras. Hegel, outro tipo de protestante, referiu-se à Reforma como o sol que a tudo ilumina e que sucede aquela aurora do final da Idade Média.”

2.Ênfases Teológicas.

A partir do movimento da Reforma Protestante, desencadeou-se uma série de mudanças na eclesiologia e estrutura da Igreja. O surgimento da Igreja Protestante, como resultado imediato da reforma , de fato simbolizou um avanço significativo na teologia da época, na forma de ver o texto bíblico, na liturgia e no governo eclesiástico que deixa de ser algo mediado pela figura papal, e passa a ser aberto, democrático e sob a inspiração do Espírito Santo.

“A Reforma Protestante foi além do movimento da libertação nacional, que resultou na formação de igrejas nacionais entre os anos de 1517 a 1563. Foi , sem dúvida, o grande precursor da liberdade religiosa atual e quem mais contribuiu para um retorno do cristianismo às suas fontes: às Escrituras.”

Dentre as várias ênfases teológicas da Reforma Protestante ,destacamos: sola Scriptura, sola Fide, sola Gratia, solus Christhus e soli Deo Gloria. Estas ênfases significaram e resultaram em mudanças profundas na teologia ensinada e pregada na Igreja da Alemanha. A afirmação luterana, sola scriptura, gerou um retorno à Bíblia, e às práticas dos evangelhos. Nesta afirmação, percebe-se um repúdio de Lutero aos ensinos resultantes de uma teologia descentralizada da Bíblia, e esvaziada de conteúdo dos ensinamentos de Cristo, que era a teologia pregada e enfatizada pela igreja romana.

Para Lutero, assim como para João Wesley,fundador do metodismo, as sagradas escrituras contêm tudo que é necessário para a salvação, de maneira que o que nelas não se encontram, nem por elas se possa provar, não se deve exigir de pessoa alguma para ser crido como um artigo de fé, nem se deve julgar necessário para salvação.

Este retorno as Sagradas Escrituras, imediatamente significou um retorno a uma teologia Cristocêntrica, onde a figura de Cristo é central. A pregação e a catequese voltam-se para os evangelhos e ensinos do próprio Cristo.

A Reforma Protestante enfatizou , como já afirmamos, a salvação somente pela fé, acabando e deixando de lado a teologia romana que enfatizava a salvação pelas obras.

A doutrina romana, salvação pelas obras, impunha pesadas tarefas e suplícios aos fiéis. Além de suprir generosamente os cofres papais, mediante a venda de indulgências, que para Lutero representava um das maiores aberrações oriundas dos ensinos e do poder papal.

Além das ênfases mencionadas acima, poderíamos ainda destacar a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes, a separação entre Igreja e Estado, como dois poderes distintos, e a importante ênfase na liberdade de expressão dos indivíduos.

3. Os desafios da Reforma Protestante para a Igreja Contemporânea.

Analisando os 487 anos do advento da reforma protestante, suas ênfases teológicas, e suas propostas, percebemos o quanto a Igreja Evangélica Brasileira, precisa regressar aos princípios da reforma.

O princípio que ressalta as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática dos cristãos, e sua suficiência para salvação, lamentavelmente não é tão visível quanto se pensa na atual prática religiosa de muitas igrejas evangélicas. Vivemos uma ênfase exagerada no sacrifício pessoal para obtenção de bênçãos e privilégios espirituais. Em algumas igrejas, a salvação é vendida, pois afirmam que para se obter algum favor espiritual, o fiel deverá depositar grandes somas de dinheiro no altar. Caso contrário, Deus não atenderá seus pedidos. Isto resulta numa salvação que é adquirida mediante as obras e comprada pelas indulgências. De fato, uma nova reforma se faz urgente.

A pureza bíblica enfatizada pelos reformadores, deu lugar a um evangelho eclético e sincretista, que incorporou expressões e ensinos de outras religiões. Isto é facilmente detectável nos ensinos e pregações proferidas em vários púlpitos de igrejas evangélicas. Por exemplo, ouvimos com facilidade expressões, tais como: encostos, banhos de purificação, reunião da mesa branca, etc. Ainda poderemos falar dos videntes evangélicos, profetas que cobram consultas espirituais, resultado pseudamente de “revelações do céu”. Muitas dessas pessoas são membros de importantes e conceituadas igrejas evangélicas, desfrutando de prestígio e liderança nessas denominações.

Ainda que não vivamos sobre o domínio papal e do magistério da Igreja Romana, que afirma deter o poder da verdadeira interpretação da Bíblia, vivemos sob o domínio de alguns pastores sedentos pelo poder, que em conseqüência disto, impõem e determinam pesadíssimas regras espirituais, e advogam para si o poder da verdadeira interpretação do texto bíblico. São senhores de si mesmos, que não estão dispostos a submetem-se à graciosa e misericordiosa vontade de Deus.

Assim como o Bispo metodista, Paulo Lockmann, percebemos no meio protestante, “pregações e práticas que nem de longe refletem qualquer ensino bíblico, muito pelo contrário, são condenados na Bíblia. Por exemplo, grupos realizam encontros , retiros, e proíbem contar o que ocorreu, trata-se de prática de mistério, próxima do esoterismo.”

Concluímos ressaltando a importância da Igreja Evangélica brasileira, em rever sua teologia e práticas, tendo como parâmetros os ideais e teologia dos reformadores. Diante do quadro atual em que a Igreja Evangélica se encontra, não resta outra alternativa, a não ser um imediato regresso aos princípios salutares da Reforma Protestante. Por isso, reafirmamos o valor e a pertinência da reflexão sobre o significado e atualidade da teologia e prerrogativas oriundas deste movimento reformador que teve seu ápice no dia 31 de outubro de 1517, quando Lutero afixou nas portas da Catedral de Wittemberg suas 95 teses.

Ao término deste artigo perguntamos: Será que o nosso modo de crer, viver e agir refletem os ideais dos reformadores?

Marco A de Oliveira
Teólogo e Pastor da Igreja Metodista do Jardim Botânico