Heróis da Fé - D.L.Moody

23/12/2009 12:58

 

A vida e o tempo de D. L. Moody

Dr. David Maas

 

 

Como um desajeitado menino do interior com apenas o ensino fundamental, tornou-se o maior evangelista da Era Dourada.

A maioria dos americanos hoje provavelmente não saberia identificar Dwight Lyman Moody como um evangelista do século 19. Ainda em sua época, ele era famoso internacionalmente. Moody freqüentemente falava para audiências de 10 a 20 mil pessoas. Ele apresentou o plano de salvação através de sua voz ou de sua caneta, a pelo menos 100 milhões de pessoas. D.L. Moody pode muito bem ser considerado o “Sr. Protestante” do século 19.

A Era Vitoriana

Moody nasceu em 1837, poucos meses antes de a rainha Vitória começar a reinar e morreu em dezembro de 1899, apenas nove dias antes da virada do século. O ministério de Moody aconteceu na Era Dourada, um período de expansão industrial dramática, urbanização e crescimento econômico. Um historiador, obviamente criticando os excessos da Era Dourada e de evangelistas como Moody, escreveu sarcasticamente: “Havia o avivalista Moody, barbado e descuidado com seus 140 quilos de carne de Adão, onde cada grama pertencia a Deus.” Uma perspectiva tão estreita, entretanto, não consegue compreender Moody.
Moody não era apenas um produto de seu tempo, mas também um arauto de um novo tempo. Ele foi pioneiro em técnicas de evangelismo que permanecem até hoje, sem alterações. Ele proclamou uma nova escatologia de pré-milenismo e fomentou um novo espírito ecumênico.
Quando alguém medita na infância rural e de privações de Moody, sua carreira como evangelista e educador e seu papel como pai, ele rapidamente se desfaz da imagem de uma antigüidade vitoriana e emerge como uma pessoa real.

A juventude de Moody

A juventude de Moody não deu indícios de que ele se tornaria um evangelista famoso. Ele nasceu em Northfield, Massachusetts, em uma família de pedreiros. Aos 4 anos perdeu o pai, e então sua mãe, Betsey, ficou responsável por criar nove filhos, todos com menos de 13 anos.
Possivelmente por causa do tamanho da sua prole, Betsey Moody nunca encorajou Dwight a adquirir uma boa educação ou estudar a Bíblia. Conseqüentemente, sua educação total era o equivalente ao sexto ano hoje. Com 18 anos, quando tentou entrar para a Igreja Congregacional, foi reprovado num teste simples de conhecimento bíblico administrado pelos diáconos. A educação de Moody era, pela maioria dos padrões, inadequada: ele nunca freqüentou a faculdade ou um seminário, nem foi ordenado como ministro. Ele escrevia como falava, então, a maioria de suas cartas, já adulto, e sermões, é cheia de erros ortográficos e gramaticais.
Se a educação de Moody era inadequada, outros aspectos de sua infância o prepararam para sua futura carreira. Seu começo humilde fez com que, quando adulto, nunca perdesse o contato com as pessoas comuns; ele não gostava de pretensão ou deferência para com aqueles em posições sociais mais elevadas. Com os esforços heróicos de sua mãe para manter a família unida, Moody aprendeu as virtudes da economia, de trabalhar duro e de ter laços familiares estreitos. Com ela, também aprendeu a ter um coração terno. Quando adulto, ele várias vezes caiu em prantos ao perceber que tinha, involuntariamente, ferido alguém. Suas desculpas públicas à pessoa ofendida eram profundas e sinceras. Crescer numa vila que, durante sua infância, tornou-se uma cidade de vários negócios, fez com ele se sentisse confortável tanto no ambiente rural quanto no urbano. Tão confortável que, aos 17 anos, ele viajou por conta própria para buscar trabalho como vendedor de sapato na loja de seu tio, em Boston.

Moody como evangelista

Em Boston, Moody trabalhou na sapataria de seu tio e entrou para a Associação Cristã de Moços local (ACM) porque oferecia oportunidades sociais e educacionais excelentes. Com 18 anos, devido à insistência de seu professor da escola dominical, ele confiou que Cristo perdoaria os seus pecados e se converteu. Logo depois mudou-se para Chicago, onde foi tão bem-sucedido vendendo sapatos, para vários empregadores, que logo conseguiu juntar 7 mil dólares. Pessoas que o conheciam durante aqueles anos lembram-se de sua energia física sem limites, de sua astúcia natural, de sua autoconfiança e de seu eterno otimismo. Moody poderia ter se tornado um industrial como John D. Rockefeller, ou um capitalista explorador como Jay Gould, mas, ao contrário, ele foi afastado dos negócios e atraído para a obra missionária entre os pobres imigrantes alemães e escandinavos no centro decadente.
Em 1858, ele fundou uma Escola Bíblica Dominical Missionária em North Market Hall. (A partir deste trabalho, seis anos depois, foi formado o precursor da Moody Memorial Church.) Em 1861, desistiu dos negócios para trabalhar em tempo integral nos projetos sociais e evangelísticos na ACM e na sua Escola Bíblica Dominical. O espírito ecumênico e não-denominacional de Moody permitiram a ele grande abertura ao alistar professores e alunos. Incansável, inovador e não-convencional, ele recrutava novos alunos oferecendo-lhes doces e passeios gratuitos de pônei. Embora não tivesse para cantar, ele liderava as canções com entusiasmo, ensinava a lição bíblica e chamava cada aluno pelo nome. Enquanto isso, Moody buscava incansavelmente contribuições financeiras com homens de negócios evangélicos, como John Farwell e Cyrus McCormick. Apesar da sua personalidade direta e impetuosa, os filantropos reconheciam que ele se importava genuinamente com os pobres da cidade.
Moody também visava ministérios com a comunidade adulta de Chicago. Sob sua liderança, a ACM desenvolveu uma distribuição das áreas de toda a cidade e fazia encontros de oração diários ao meio-dia. Sua missão organizava encontros de oração à noite para os adultos, assim como chá às sextas-feiras e aulas de inglês para imigrantes recém-chegados.  Em 1864, ele expandiu sua missão e ela tornou-se uma igreja – a Illinois Street Independent Church – para famílias imigrantes. Como presidente da ACM de Chicago por quatro anos e um organizador de igrejas bem-sucedido, tornou-se um palestrante popular nas convenções da ACM. Uma vez passou quatro meses visitando e falando nas ACMs na Inglaterra. 
O grande incêndio de Chicago em outubro de 1871 fez com que Moody deixasse a igreja para assumir uma carreira como avivalista itinerante. O famoso incêndio destruiu sua igreja, sua casa e a ACM local. A princípio ele ficou emocionalmente deprimido, mas compreendeu, por fim, que estava gastando energia demais com comitês de trabalho e arrecadação de dinheiro. Ele concentrou-se, então, na pregação do evangelho de Cristo, pois estava convencido de que o mundo seria mudado não pelo trabalho social, mas pelo retorno de Cristo e o estabelecimento de seu reino milenar na terra. Sua rejeição consciente das velhas noções de pós-milenismo e a aceitação do pré-milenismo o impeliram a um esforço missionário vigoroso para a “evangelização do mundo nesta geração”. 
No verão de 1873 ele saiu corajosamente pela fé através da Inglaterra com seu líder de louvor, Ira Sankey, e suas famílias. Depois de pregar por dois anos na Inglaterra, Escócia e Irlanda, ele retornou ao Estados Unidos como um avivalista internacionalmente famoso. Imediatamente, representantes de muitas cidades americanas o convidaram para fazer uma cruzada em suas cidades. Pelos três anos seguintes, Moody conduziu campanhas de avivamento tanto nas cidades grandes quanto em cidades pequenas, como Newburyport, em estruturas que variavam de uma pista de patinação até depósito abandonado de uma ferrovia. Durante estas cruzadas, ele foi pioneiro em muitas técnicas de evangelismo: visitas de casa em casa aos moradores; abordagem ecumênica alistando cooperadores de todas as igrejas locais e líderes evangélicos leigos, independente da denominação; apoio filantrópico por parte dos negócios da comunidade; o aluguel de um grande edifício central; a apresentação de um solista de música evangélica e o uso de uma sala de perguntas.

Moody como educador

Embora continuasse a realizar cruzadas evangelísticas, em 1879 D.L. Moody mudou o foco do seu ministério para a educação. Naquele ano, ele estabeleceu o Northfield Seminary para garotas, seguido dois anos depois pelo Mount Hermon School para garotos. Finalmente, em 1886, Moody lançou o Bible Work Institute of the Chicago Evangelization Society [Instituto bíblico de evangelização da cidade de Chicago] (renomeado para Moody Bible Institute – Instituto bíblico Moody – pouco antes de sua morte). Ele achava que se desse uma educação centrada na Bíblia produziria um exército de pessoas treinadas para a obra de evangelismo nas cidades que cresciam nos Estados Unidos.
Em 1880, Moody convidou jovens e adultos em idade universitária para a primeira de muitas conferências bíblicas de verão em sua casa, em Northfield. Seu espírito ecumênico e falta de treinamento teológico o mantinham longe das posições doutrinárias rígidas, tais como aquelas que caracterizavam os contemporâneos na santidade, perfeccionismo ou movimentos dispensacionalistas. Ele convidava palestrantes de diversas tradições teológicas para estas conferências de verão. Em uma conferência, The Student Volunteer Movement [Movimento estudantil voluntário] foi fundado por 100 universitários que se empenharam em trabalhar em missões estrangeiras depois de concluirem a faculdade. Em 1894, como parte do treinamento leigo no Moody Bible Institute, ele começou a Associação Colportage, uma organização de “Vagões do Evangelho” puxados a cavalo, a partir dos quais os alunos vendiam livros e panfletos por todo o país.

Moody como pai

Moody é normalmente visto apenas como um avivalista incansável, sólido, sempre insistindo com os pecadores.
Embora seja verdade que ele pregava seis sermões por dia um mês antes de morrer, foi no papel de pai que sua personalidade melhor se revelou. Em 1862, ele casou-se com Emma Revell, que se tornou a personalidade notória por trás das cenas. Ela foi a mãe de seus três filhos – Emma, William e Paul – enquanto também servia como sua secretária pessoal.  
Todas as três crianças Moody lembram com carinho experiências com um pai amoroso e divertido e “cristão musculoso”. Paulo lembra com orgulho que seu pai era “o maior e o melhor homem que eu já conheci”.
Moody adorava as férias com sua família na fazenda de Northfield, onde ele podia se desfazer de seus ternos pretos e vestir-se em “vergonhosas” roupas velhas. Ali ele fazia o papel de um fazendeiro, cavalgando diariamente e andando de buggy (um carrinho leve de duas rodas) em alta velocidade pelos campos, tirando uma soneca do meio da tarde, ou amontoando centenas de cartas que ele assinava pessoalmente e então espalhava pelo chão para que a tinta secasse. Os convidados para o jantar observavam sua personalidade de raciocínio rápido, a boa natureza e sua incessante atividade, beirando à incansabilidade: eles eram freqüentemente surpreendidos quando ele abria sua correspondência e jogava para eles, dizendo bruscamente: “Responda isso!”
Como um de seus filhos lembra dele em casa? Moody era “um Peter Pan barbado e corpulento, um menino que nunca cresceu realmente”. Possivelmente compensando por ter sido privado de sua infância muito cedo, ele fazia tudo numa escala dramática. Ele tomava banho três vezes por dia em água gelada. Quando notou uma escassez de porcelana, ele encomendou barris do mesmo padrão. Ele comprava lenços e suspensórios em quantidade (duas dúzias). Seus filhos lembram de uma vez que seu pai não conseguia decidir qual dos vários tapetes orientais deveria comprar, então, impulsivamente, comprou todos. Moody era um excelente contador de histórias, passando tempo com seus filhos e também com seus amados netos. Ele gostava de pegadinhas, desde as mais leves, como esconder um baralho de cartas no dormitório de seu filho, na faculdade, até jogar um balde de água em algum aluno inesperado de Northfield. Seu conselho para seus filhos era muitas vezes manifestado por ditados expressivos: “Não espere que algo se revele. Vá e revele algo.” Ou então, “O diabo tenta a maioria das pessoas, mas um homem preguiçoso tenta o diabo.”

Perguntas

A vida de Dwight Lyman Moody traz uma série de perguntas fascinantes:
Por que Deus escolheu um homem pouco letrado e algumas vezes comodista?
Moody teria se tornado um magnata rico se tivesse canalizado sua energia dinâmica no mundo dos negócios?
Se Moody vivesse em nossa era sofisticada, as multidões se aglomerariam para ouvi-lo pregar em seu estilo rápido de 230 palavras por minuto, ou ele era um homem que tinha apelo apenas para os ouvintes da Era Vitoriana?
Enfim, devemos responder que é melhor evitar tais especulações e, ao contrário, reconhecer que Deus deu poder a um servo disposto e incansável, que muitas vezes disse: “Não adianta pedir a Deus para fazer coisas que você mesmo pode fazer.”


Dr. David Maas é professor de História no Wheaton College, em Wheaton, Illinois.